Índia. Por onde começar neste país que afinal é continente? De quantos impérios antigos e grandiosos, palácios coloridos, tecidos valiosos e especiarias infinitas é feito este pedaço de planeta que aponta o Índico? Quantas línguas de etnias distintas, paisagens opostas e religiões diferentes convivem no território onde desembarcou Vasco da Gama há 522 anos atrás? Que histórias de subjugação e revolução fazem das índias esta Índia que a ninguém deixa indiferente?
Maioritariamente Hindu mas talvez um dos países mais multi-religiosos do Mundo. A nação de Mahatma Gandhi é o 7º maior e 2º mais populoso país do planeta. A economia indiana cresce a um ritmo quase inigualável, mas neste país os dramas da pobreza, analfabetismo, violência de género, saúde pública deficitária e desnutrição estão ainda longe de ser resolvidos.
Talvez já tenham ouvido isto, mas não podemos faltar à verdade. A Índia é mesmo única. Os que a visitam, adorando e odiando, quererão sempre voltar.
Não deverá existir no Mundo nada igual a este país, e é também assim que os indianos o querem, igual a ele próprio. Ao contrário de tantos outros países da Ásia que vão adotando o estilo de vida e valores da cultura chamada ocidental, o povo indiano mantém as suas raízes vivas e inabaláveis. Mas o que é assim tão diferente neste povo? A religiosidade, a exuberância das cores que vestem em trajes tradicionais, a gastronomia rica e variada, os costumes sociais conservadores em relação à classe social e ao papel da mulher, a poluição descontrolada, a pobreza a olho nu, a densidade populacional, e a diversidade de mundos que convivem simultaneamente num mesmo lugar.
O Hugo adora viajar ao sabor do vento, mas, num país desta dimensão, tornou-se essencial seguir a preferência da Joana e planear bem. Depois de alguma pesquisa percebemos que num território tão vasto e diverso para descobrir, o tempo revela-se sempre insuficiente, portanto há que escolher e escolhemos o Norte da Índia.

Deli é a capital da Índia, tal como o foi de tantos impérios e reinos lendários ao longo dos últimos 1500 anos, incluindo durante o poderoso Império Mughal, que ergueu palácios tão sublimes como o Taj Mahal.
Hoje, os números falam: 27 milhões de habitantes em 2020; 5ª cidade mais populosa e 2ª maior área urbana do Mundo.
Nova Deli, como é erradamente chamada para a diferenciar da Old Delhi, é apenas o nome do distrito mais central e moderno da cidade. Deli tem um passado cheio, um presente vibrante e um futuro indomável.
Poluição
Deli é top 11 das cidades mais poluídas do Mundo. Isso afeta, é claro, a qualidade de vida e a saúde dos seus habitantes. Um dos primeiros grandes impactos que se sente ao chegar é o constante e terrível smog que cobre a cidade. Um trânsito desenfreado de mais de 10 milhões de carros, motas, tuk-tuks e carroças encavalitados sobre uma estrada que mal se vê alimenta esta neblina suja. A isto acresce uma bateria de fundo que são as buzinas nervosas de todos estes veículos. O zumbido ensurdecedor e constante que se chama poluição sonora, é talvez a mais incomodativa de todas as formas de poluição na cidade.
Esquemas de Burla
É já antiga e famosa esta história dos “esquemas para turista” em Nova Deli. Existe e é uma enorme e bem montada teia de burlões e extorsionistas. Normalmente, tudo começa num meio de transporte (por exemplo tuk-tuk) em que o turista pede que o levem ao lugar x e acaba no lugar y (por exemplo, uma loja de artesanato de família onde se pretende que compremos alguma coisa). Outra possibilidade é o turista pedir que o levem à estação de comboios para comprar bilhetes e acaba numa agência privada de turismo que se faz passar por bilheteira oficial, vendendo bilhetes de comboio, estadias, e packs completos de turismo para toda a Índia a preços exorbitantes. Fazem isto usando uma incrível persuasão e provocando o medo, dizendo que tudo está esgotado ou que só é possível comprar ali porque é o órgão oficial. Mesmo quando não enganam os turistas, enredam as pessoas neste loop durante tanto tempo e com tanta insistência, que acabam por derrotar a sua incredulidade ou a sua paciência e o resultado é o mesmo. Os turistas atentos, que não se deixam enganar à primeira nestes esquemas, podem até livrar-se de uma situação deste género e logo de seguida irão apanhar outro tuk-tuk que está ligado a este ciclo e tudo começa de novo. Alguns turistas passam 1 dia inteiro presos nesta teia pegajosa e verdadeiramente difícil de romper.
Aqui ficam algumas dicas para lidar e contornar isto:
1) Usa a app Grab (equivalente ao Uber) para te movimentares (o facto de teres um preço já definido e avaliares os condutores não dá aso a desvios);
2) No caso de não usares o Grab, sê claro e inflexível com os drivers quanto ao teu destino e negoceia o preço antes de partir;
3) Assim que te apresentarem um cartão de uma loja, produtos que não pediste, sugestão alternativa de programa ou se desviarem da rota, simplesmente ameaça sair imediatamente. Não tenhas medo de ser um pouco mais assertivo para mostrar que não estás para brincadeiras, só isso te poderá salvar;
4) Em último caso, se vires que nenhuma das técnicas anteriores funciona, ameaça chamar a polícia.
Tudo isto deverá garantir que eles façam só e apenas aquilo que tu pagaste para eles fazerem: levarem-te onde queres. É triste, mas esta é uma realidade com a qual vais ter de lidar em Deli. Se não tens paciência ou tempo para apps ou jogar com burlões, então resta-te a opção mais cara de contratar um driver privado que te transporte pela cidade.
Pobreza
A pobreza aqui é visível. A densidade populacional deste meio urbano maioritariamente pobre cria situações particularmente cruéis de vidas humanas sem teto nem rumo. Metade da população de Deli vive em bairros precários clandestinos sem as condições básicas de higiene, segurança e muitas vezes de alimentação garantidas. Nos bairros onde a densidade populacional, o lixo e a pobreza se juntam numa combinação miserável vem a pergunta: como é possível que existam tantas pessoas a viver, e tantas a sobreviver, nestas condições? Como é que a vida se desenrola aqui desta forma?

Transportes
Metro: 10ª maior rede de metro do Mundo. É funcional, moderno e económico. Cobre uma boa parte dos pontos turísticos a que vais querer ir;
Tuk Tuk e Bicycle-Rickshaw: bem negociado torna-se económico e leva-te ao lugar exato onde queres ir (em princípio…). É também uma forma privilegiada de assistir ao caos da cidade sem estar afogado no meio dele (isto é especialmente verdade na zona de Old Delhi);
Táxi: mais calmo, mais lento e mais caro;
Bus: é um importante meio de transporte para a população local. Há milhares de autocarros que se encarregam diariamente de ligar a área metropolitana. No entanto, dado o trânsito infernal não recomendamos para visitantes.

O que visitámos:
– Old Delhi: Um dos lugares mais impactantes que vais visitar na vida. A quantidade de situações, atividades, pessoas e sensações que podes ver e experimentar aqui vão-te consumir os sentidos por completo até à exaustão. Labiríntico, claustrofóbico, barulhento e completamente louco. Depois conta-nos como foi…;

- Red Fort: Antiga residência dos imperadores Mughal, é uma estrutura gigantesca de arenito vermelho. É o maior monumento da cidade e onde se dão as cerimónias anuais para celebrar o Dia da Independência da Índia;


- Chandi Chowk: Um dos mais antigos, recheados e claustrofóbicos mercados de Old Delhi;


- Jama Masjid: Principal mesquita de Old Delhi;


– Connaught Place: É uma referência central da cidade. Uma enorme rotunda de dois anéis onde se concentram escritórios, centros comerciais, lojas de comércio, restaurantes, etc.;
– Qutub Minar: É o maior minarete de tijolo do Mundo, Património Mundial da UNESCO. Uma viagem ao Sultanato de Deli que governava a região há quase mil anos atrás, leva-nos aos primórdios dessa Índia muçulmana que tanto se desconhece ou ignora;


–Hauz Khas: Bairro rico a sul da cidade. Concentra alguns restaurantes e bares mais fancy, é um género de Lx Factory da zona;
– India Gate: Memorial aos 70.000 soldados indianos do Exército Britânico que morreram em combate na 1ª Guerra Mundial;

– Parlamento e Edificios do Governo: Grandioso mas é só isso;
– Templo de Lotus: Pertence à religião Bahá’í e é um exemplar de arquitetura lindíssimo;

Onde dormimos:
Ficámos hospedados no Atlanta Trainstation Hotel. Como o nome indica é perto da estação de comboio o que é uma vantagem se o usares para entrar ou sair de Deli. Razoável para o preço que tem.
Onde comemos bem:
- Darbar: Indiano Vegetariano. Local, delicioso e barato;
- Social: Em Hauz Khas. Indiano mais requintado, com um rooftop agradável e bar. Caro.
A primeira paragem na Índia foi Nova Deli e já estamos completamente afogados em novidade. Para já sobrevivemos à explosão de sensações que é a capital do país e estamos muito curiosos para o que aí vem.
Muito bom.
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Mais uma vez,tão bem escrito e descrito que senti-me mesmo lá…
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