

Decidimos tirar um fim de semana para conhecer o Kruger National Park. Situado a apenas 120 km de Maputo, não havia como não fazer uma expedição a este lugar especial.
Quem procura experiências ricas de contacto com a natureza e animais selvagens, tem mesmo de conhecer esta reserva de biodiversidade.
O Kruger foi o primeiro Parque Nacional da África do Sul, fundado em 1926, e é até hoje o maior do país. Cobre uma área de dimensão equivalente à de países como a Eslovénia ou Israel, regiões como o Alentejo (Portugal), ou a 2 vezes a metrópole de Nova Iorque. É antigo e grande portanto. Falamos de uma das maiores reservas protegidas de fauna selvagem em África.
Como pioneiro no turismo de safari, o Kruger tem uma infraestrutura muito bem desenvolvida. Hospedagem dentro e fora do Parque. Camp sites com restauração e lojas. Algumas estradas alcatroadas. Oferta de inúmeras atividades e tours guiadas para todos os gostos e bolsos.
Por estas razões, os especialistas dizem que já não é assim tão selvagem, que os animais estão já familiarizados com a presença humana. Ainda assim, nós achámos que este era um lugar mágico.
A verdade é que hoje em dia, o Kruger recebe mais de um milhão de visitantes por ano. No entanto, a vida selvagem é muito respeitada, tendo em conta a dimensão do parque e a existência de normas tão claras e restritas no que toca à conduta dos visitantes: desde a limitação da velocidade de circulação, do ruído, proibição de interação com os animais, deposição de lixo, horas de permanência no interior do parque, etc.
Vindos de Maputo, passámos a fronteira em Ressano Garcia (Moçambique) para a África do Sul, o que nos levaria à região mais Sul do parque, onde há maior concentração de felinos.
Ficámos hospedados no Kruger View Chalets, situado fora do parque, junto ao Malelane Gate (uma das portas de entrada), uma opção de estadia mais económica do que as que existem no interior do Kruger. Bastante razoável, confortável, do estilo self-catering, com piscina e um deck de observação para dentro do parque onde a banda sonora da savana Africana dava ambiente constante.

Acordámos bem cedo e por volta das 6 da manhã estávamos já na entrada. Depois de um formulário preenchido, passaportes registados, revista completa ao carro, e 372 Randes (cerca de 22€) por pessoa (por dia) começamos a nossa aventura.
Então qual foi o plano para 2 dias de Safari? Usar as entradas de Malelane e Crocodile Bridge, e explorar o parque até aos camp sites Skukuza e Lower Sabie. O que no total significou um percurso de cerca de 250 km.
Optámos por não recorrer a qualquer tipo de expedição organizada ou guia de safari. No nosso próprio carro, de olhos bem abertos e com um nervosinho de principiante, lá fomos. Que comece o game viewing, um estilo de caçada que dispara com os olhos e é memorável.

Dicas para game viewing?
- Acordar cedo. É ideal estar no parque no momento do nascer e pôr do sol (absurdamente belos). Esta é uma altura em que os animais, aproveitando as temperaturas mais amenas e a menor visibilidade, se revelam menos furtivos;
- Garantir que fazes o safari num carro alto. Faz mesmo diferença para avistar os animais, ou então vais ficar a ver apenas as ervas altas à beira da estrada;
- Levar binóculos. Essencial para encontrar animais à distância, acompanhar as suas interações e apreciar o pormenor das paisagens extensas e cheias de cor;
- Levar máquina fotográfica. Acredita que vais querer registar para mais tarde recordar não só os animais mas também os incríveis cenários;
- Planear uma rota. Dada a dimensão do parque, é importante planear uma rota consoante o tempo disponível e os teus objetivos (é fácil ficar às voltas a ver impalas a tarde inteira). É também importante planeares onde vais comer e fazer o teu xixi (parar na beira da estrada não só é proibido como não é recomendável). Comprar a revista “Kruger park Map & Guide” ajuda neste processo e enriquece bastante o teu safari com informação variada do parque e da vida animal;
- Consultar os mapas nas entradas do parque e camp sites. Estes mapas têm uns pinos colocados que indicam onde foram avistados nas últimas horas alguns dos animais mais raros e fantásticos. Vão sendo atualizados pelos guias e pelas próprias pessoas.
Mas afinal que animais vimos? Muitos e todos inesquecíveis à sua maneira. Dos famosos big five (os cinco mamíferos selvagens de grande porte mais difíceis de serem caçados pelo homem), conseguimos “caçar” o leão, o elefante, o rinoceronte e o búfalo. Apesar de muita procura o leopardo estava envergonhado e não o conseguimos avistar. Esta só pode ser uma premonição para voltar a fazer um safari. Em contrapartida, tivemos o prazer de ter uma chita a desfilar em frente ao nosso carro, o que é a sorte grande dado que só existem 120 em 20.000 Km² de parque.



Mas há mais, muito mais…. Leoas a devorar uma pata de zebra fresquinha. Girafas e zebras, sempre elegantes. Hipopótamos, crocodilos, gnus, waterbucks, bushbucks, javalis, cães selvagens, babuínos, “macacos das bolas azuis” (sim, têm os testículos azuis!), águias, abutres, pássaros de todas as cores e portes, o famoso kudu (não é por acaso que dá forma ao símbolo do parque) e muito mais.


Fazer um safari abriu toda uma nova perspetiva em relação ao game viewing. Como tantos Sul-africanos o fazem, descobrimos que fazer safari não é necessariamente um evento único e isolado, mas sim uma atividade repetível, viciante e na qual podemos progredir significativamente (o olho treina-se, e muito!). À medida que melhor conhecemos os caminhos do parque, observamos animais em determinada situação, torna-se cada vez mais interessante e complexo, aquilo que é o game viewing. Há geeks desta atividade que fazem quilómetros e quilómetros, percorrendo diferentes parques de África para encontrar animais específicos em paisagens ímpares e situações únicas. Desde a fotografia à mera observação, do planeamento das rotas ao posicionamento dos carros para aproximação aos animais, o game viewing é um Mundo por explorar. E de facto, há amadores e há profissionais nesta prática, tornando-se fácil e óbvia a sua distinção.

É de uma enorme beleza assistir aos animais vivendo livremente e observar os seus comportamentos quotidianos, participando no equilíbrio do Ecossistema de que fazem parte. A sensação de perfeita harmonia de todos os elementos que compõem a Natureza é algo bem concreto no Kruger Park.

Uma atividade cansativa. Acordar cedo, estar atento à procura, conduzir longas horas, absorver a cor intensa dos cenários e ser tão frequentemente interpelado pelos diferentes habitantes do parque em comportamentos tão variados dá um ritmo alucinante ao safari, que não é tão parado como pensámos. Essa azáfama que cansa também preenche de uma calma como só o clima e o sol africano são capazes.