Aterrámos em Maputo, Moçambique, no dia 2 de Maio de 2019, onde começou a nossa missão. Ficámos cerca de 1 mês na capital.
O primeiro impacto
O primeiro impacto é forte. O ambiente é quente. Nas margens das ruas, casas feitas de cimento e chapa, pintadas com publicidade em cores gritantes, caracterizam grande parte da cidade. O trânsito, absolutamente caótico, não tem estrada. As pessoas não têm passeio. O trânsito dos passeios e as estradas de pessoas confundem-se em semáforos que aparentemente ninguém vê, buzinas, carrinhas à velocidade da luz onde não há limite de passageiros (Chapas e My Love*, meios de transporte locais), buracos, avenidas largas e bairros-labirinto, negócios de rua de tudo aquilo que possam imaginar (frutas, legumes, capulanas, alguidares, recargas para o telemóvel… é só escolher!), lixo e esgoto.
*My love: Carrinha de caixa aberta que transporta demasiadas pessoas, sentadas ou em pé, como dá. O nome My love provém do facto de a única forma de as pessoas não caírem em pleno andamento é abraçarem-se fortemente umas às outras.
Dos bairros onde ainda não chegou o asfalto, e tantas vezes a luz elétrica, voa no ar e poisa em toda a cidade uma poeira alaranjada. Isso dá-lhe um charme único.

São muitas as pessoas que preenchem a rua: desde senhoras que carregam na cabeça tudo e mais alguma coisa com um equilíbrio invejável, às que levam os bebés às costas nas capulanas e às que fazem tudo isto em simultâneo. Muitas crianças, muitas mesmo, e tantas delas descalças, sujas e com roupa rota. Procurar onde estão os seus pais não é tarefa útil. Andam sozinhas, umas com as outras.

Apesar do caos em movimento que é Maputo, há uma estranha e boa paz no andar do dia. Com o que têm, as pessoas fazem a sua vida à velocidade e dignidade que querem ou lhes é possível, e tratam-se com proximidade e alegria. Reaprende-se a exigir menos do tempo, porque tudo demora um pouco mais, e a dar-se aos outros com facilidade.
A cidade
Não há como estar verdadeiramente num lugar, sem o conhecer. Foi por isso que uma das grandes prioridades ao chegar foi conhecer um pouco da cidade de Maputo. Vamos?
O esqueleto de Maputo é o desenho de uma cidade cosmopolita moderna. Longas avenidas atravessam quilómetros e uma marginal invejável acompanha a baía da cidade. A maioria das construções modernas são dos anos 60 e 70 e têm um carácter arquitetónico singular.
Maputo não é só o pobre e desordenado bairro de Maxaquene, onde começou a nossa missão. Riqueza também se vê. Chega a poucos, mas aos que chega, chega em força. Como muitas outras, é uma cidade de contrastes. Como não tantas outras, é uma cidade absurdamente desigual.
Sentados num banco do belo jardim Tunduro, e ao som da brisa quente do pôr do sol, não deixávamos de reparar no velhote que do outro lado da rua tomava banho. Com o auxílio de um pequeno balde e à borda do passeio, lava-se numa poça de água. As roupas estavam estendidas sobre as grades do jardim.
Na cidade de Maputo, como em todo o país, a classe média é praticamente inexistente. Os bairros da Polana, Sommershield, Central e Coop guardam grandes vivendas, condomínios privados, bares e restaurantes modernos, estrangeiros e algumas fortunas. A restante parte da malha urbana da cidade, e, portanto, onde vivem cerca de 1 milhão de pessoas, é composta de bairros pobres claustrofóbicos com poucas infraestruturas, nomeadamente de acesso a água canalizada ou luz elétrica.

O turismo
Maputo não é propriamente uma cidade preparada para o turismo. Não há muita informação, serviços e comércio para o efeito, e a oferta de hotelaria não é tao alargada assim.
É de destacar, no entanto vários pontos-chave que conhecemos e que achamos que vale a pena visitar:
Para passear:
- Baixa da Cidade
- Jardim Botânico Tunduru
- Jardim dos Namorados
Para visitar:
- Praça da Independência e Câmara Municipal
- Praça dos Trabalhadores
- Catedral de Maputo
- Igreja de Santo António da Polana
- Museu de História Natural
- Estação de Caminhos de Ferro
- Fortaleza de Maputo
- Casa de Ferro
Para comprar:
- FEIMA (Feira de Artesanato, Flores e Gastronomia de Maputo)
- Mercado Central (frutas, legumes, frutos secos, peixe…)
- Casa Elefante (capulanas)
- Baía Mall (shopping)
Para ver o Pôr-do-sol (especialmente bonito por aqui) e beber um copo:
- Dhow
- Hotel Cardoso
Em dois dias é possível visitar todos estes locais.





A gastronomia
Por estes lados a base das refeições são os hidratos de carbono. Em geral come-se muita mandioca (frita ou cozida), massa e arroz (arroz com feijão então é o prato nosso de cada dia), mas não só…
Um prato muito típico é a chima (tem um aspeto semelhante ao puré de batata, ainda que mais consistente, e é feito com farinha de milho). Matapa é um acompanhamento bastante cozinhado por todo o Moçambique e consoante a região é confecionada de maneira diferente (certo é que é feita com folhas da mandioca e leite de côco). Não só provámos como ajudámos a pilar molina (amendoim torrado, farinha de mandioca e açúcar), deliciosa! Este país premeia-nos também com castanhas de caju maravilhosas e verdadeira fruta (papaias, mangas, pera abacate, bananas, côco…).


Alguma história
Os resquícios da presença dos portugueses vivem ainda em Maputo um pouco por toda a parte. Desde as tampas de esgoto na Baixa da cidade, às placas descritivas dos museus, o nome antigo da cidade, Lourenço Marques, continua bem presente. Cerca de metade da população local fala português (e este é o único idioma comum e oficial a todas as províncias do país). E grande parte da arquitetura e construção moderna da cidade data do fim do período de ocupação portuguesa.
O “tempo dos portugueses”, como se diz por aqui, é uma espécie de tabu. Ninguém fala sobre isso. Ou porque não conhece a história ou porque não quer falar sobre ela. Há uma certa mágoa, um silencio generalizado em relação ao “tempo dos portugueses”.
Também a Guerra civil, que se seguiu à Guerra pela Independência de Moçambique é uma memória recente e que ninguém deseja lembrar.
Dá a ideia de que os Moçambicanos querem apenas olhar o presente e o futuro. E talvez seja natural. A verdade é que entre o despoletar da Guerra pela Libertação em 1962, a saída brusca dos Portugueses (cerca de 250 000 pessoas em 1974-75) e o período de Guerra civil que se seguiu até 1992, entre a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) (e que ainda hoje têm as suas tensões e agressões armadas), se perderam demasiados meios de produção, pessoas qualificadas, tempo e sobretudo vidas. Foram 30 anos de alguns ganhos, como a independência nacional, e muitas, muitas perdas.
Assinou-se há dias um acordo de paz (mais um) entre os líderes dos dois históricos partidos. Vamos esperar que esta paz dure, os Moçambicanos merecem.
Hoje e amanhã
Hoje, o grande combate deverá ser contra a corrupção política, o HIV, a fome e a mortalidade infantil, pela escolarização e o Estado democrático de direito.
A economia Moçambicana continua refém de multinacionais europeias, americanas e chinesas, que exploram os recursos naturais do país a troco de “um prato de lentilhas” para a mesa de quem governa (pouco) e manda (como quer). Apesar de tudo a economia cresce na agricultura, e turismo, menos mal.
“Moçambique nossa terra gloriosa, pedra a pedra construindo o novo dia…”.