
Após 1 mês na capital a missão continuou por mais 5 meses no distrito de Manjacaze, província de Gaza, Moçambique.

Manjacaze. Terra das contendas de Gungunhana e Mouzinho de Albuquerque, do nascimento de Eduardo Mondlane e dos livros de Mia Couto. Terra do Gigante e de tantos pequenos que caminham longas horas para a escola. Terra dos papás que partiram cedo demais e das vovós que dão mama seca aos netos. Terra do caju e amendoim, do arroz, das mangas e papaias. Terra de comércio e palhotas redondas em caniço. Terra da grande lagoa, da sede e da Sida. Terra de tradição e ambição. Terra de terra vermelha e areia fina.





Estes meses em Manjacaze têm sido reveladores. Vir da capital até aqui foi equiparável a ir de Lisboa às nossas aldeias de família no Centro e Norte de Portugal. Aqui mostra-se o rosto do Moçambique rural, em tanto mais pobre que Maputo de meios materiais, e em tanto mais rico que a capital de meios sociais e morais.

A vida do campo é mais dura que a da cidade, certamente, mas há nela uma qualidade de vida superior. Aqui, o pobre (palavra que não existe em Changana e, de certa maneira, corretamente), não tendo fácil acesso a água potável, energia elétrica ou transporte, tem espaço para habitar, machamba própria, e uma maior possibilidade de fugir aos vícios e poluição que o desemprego e a concentração de pobreza de Maputo trazem consigo. Talvez por essa razão, entre as gentes do distrito de Manjacaze há mais proximidade, alegria, dignidade e igualdade, embora se fale bem menos português, haja menos emprego formal e o sol dite ainda, imperiosamente, os horários da maioria da população.


