Depois de vivida uma das maiores aventuras da nossa vida, a subida ao Kilimanjaro, queríamos um programa mais tranquilo e que não implicasse esforço físico da nossa parte.
No Kruger, África do Sul, ganhámos o gostinho pelo safari. Afinal de contas, tínhamos ficado com o leopardo na mira, que se recusou a aparecer dessa vez. Estávamos na Tanzânia, um dos lugares mais conceituados de natureza e vida selvagem. Fazer aqui um safari pareceu-nos a forma ideal de deixar este país incrível.

É importante dizer que um safari não é barato, mas é tão incrível como podem imaginar. Dependendo da agência que contratas e dos teus requisitos, terás preços mais ou menos elevados. No entanto, não esperes pagar menos de 800 USD por 4 dias de safari. Garante apenas que o teu preço inclui o seguinte:
- Impostos governamentais (IVA)
- Taxas do Parque Nacional
- Jeep
- Guia (é quem conduz o jeep)
- Cozinheiro
- Salário para o guia e cozinheiro
- Taxas de camping
- Tenda, colchão e saco-cama
- Equipamentos de cozinha e utensílios para comer
- Três refeições por dia (pequeno almoço, almoço e jantar)
- 1,5 litros de água potável por dia/pessoa
Posto isto, é deixares-te levar!

Como já tínhamos contratado a Gazelle Adventures para a subida ao Kilimanjaro e esta é uma empresa que organiza não só trekkings na montanha como safaris, acabámos por ajustar com eles um preço “mais em conta” para Kilimanjaro + Safari. Como empresa estão mais bem preparados para lidar com a montanha do que com o safari. Ainda assim considerámos o balanço positivo.
DIA 1: SERENGETI

Saímos de Moshi à 5 da manhã, guiados numa viagem de 3 horas até ao ponto de encontro. Chegados ao Fanaka Campsite, localizado perto do portão de entrada para o Parque Nacional Lake Manyara, tomámos o pequeno-almoço e conhecemos o casal de franceses com quem iríamos partilhar esta aventura. Fazer um safari privado não só era mais caro como para nós não fazia grande sentido. Os jeeps são espaçosos, a atividade é dinâmica e um safari em grupo é uma boa oportunidade de convivência numa experiência muito particular. Para além disso, não estávamos de lua-de-mel para seguir esta nova moda desenfreada de safari super romantic.
O nosso guia, o Deo, era super tranquilo, jovial e um autêntico cromo da fotografia, o que para a Joana foi uma ótima oportunidade de aprendizagem. A sua paixão eram as aves selvagens. Sim, o safari não são só leões e leopardos. O que há para contemplar é muitíssimo mais vasto.

O Deo acredita que o Jardim do Éden é, na verdade, o Serengeti. Riamos disto e depois de lá estarmos entendemos bem melhor a sua crença. Fomos guiados várias horas por terra batida em paisagens que pareciam não terminar. Serengeti, na língua dos Masai, significa exatamente “planícies sem fim”. Estas planícies de 30000 km2 abrigam a maior migração animal de mamíferos do Mundo e são uma das maravilhas do Mundo natural. Por isto, e por tudo o que só nestas planícies se pode ver, estávamos mesmo, talvez, no Éden original, onde Adão e Eva viviam livres. Para corroborar esta teoria romântica, próximo da entrada do parque está Olduvai Gorge, o lugar onde foram descobertos os fósseis mais antigos de hominídeos que viriam a tornar-se seres humanos como nós. Assim, estas planícies são apontadas como o verdadeiro berço da Humanidade, o Éden!

O grande objetivo do dia foi ir diretamente ao coração do Serengeti, o rio Seronera. Pelo caminho já se iam avistando gazelas, impalas, zebras, girafas, javalis e também algumas aldeias do povo Masai, com as suas casas temporárias em círculo feitas de barro e cocó de vaca. Os Masai são semi-nómadas, vivem essencialmente do seu gado que pasta lado a lado com zebras e gnus. Quando as pastagens secam mudam-se para outro lugar. O afinco nos seus costumes ancestrais, nas suas vestimentas tradicionais e na sua organização social (patriarca e poligâmica) fazem dos Masai uma das tribos mais famosas do Mundo.



Chegados ao Seronera, a vida animal aumentou em tamanho e quantidade. Leões e leoas, chitas, elefantes, hipopótamos e muito mais. Explorámos a zona até ao pôr-do-sol e ficámos completamente deliciados. Finalmente, montámos acampamento no Seronera Pubic Camping e o cozinheiro que veio connosco tratou de preparar o jantar.




À noite podem ouvir-se ao longe os ruídos da savana. Acordar de manhã e ver um grupo de gnus a correr desenfreadamente é normal. Mas não se preocupem, é seguro ficar nestes camp sites.
DIA 2: SERENGETI

O dia começou cedo. Ao nascer do sol já estávamos no jeep, prontos para o game viewing. Voltámos ao ponto onde tínhamos ficado, esse lugar especial que é o rio Seronera e a vida que o rodeia. Como já falámos no post do Kruger, o nascer e o pôr-do-sol são momentos estratégicos para o game viewing. Aproveitando as temperaturas mais amenas, os animais mostram-se na savana, principalmente para pastar e caçar.

Ao fim da manhã, iniciámos a viagem de saída do Serengeti, e obviamente que no caminho o safari não se interrompe. Conseguimos finalmente avistar o leopardo que desta vez perdeu a vergonha e dormia refastelado sobre os galhos de uma árvore. O caminho é longo, poeirento e de tal forma irregular que lhe chamam a “massagem Africana”. Assim foi, a avistar chacais, hienas, abutres, avestruzes… Chegámos ao Simba Camp ao final da tarde e foi lá que jantámos e montámos acampamento. Estávamos na borda da maior caldeira vulcânica inativa do Mundo, a Ngorongoro Crater.

Quando nos fomos deitar, à porta da nossa tenda e debaixo de um céu estrelado, uma família de zebras e um búfalo enorme pastavam por ali. Acredita, estar a 3 metros de um búfalo macho que te olha com desprezo e superioridade é de cortar a respiração. Tudo normal.

DIA 3: NGORONGORO CRATER
O dia começa quando o sol nasce, e lá vamos nós “safariar”. Mais verde e intacta, a Ngorongoro é definitivamente um must-see. Dentro desta enorme caldeira de um vulcão extinto (19 km de diâmetro!) vivem quase todas as espécies animais da África Oriental, e por isso alguns dão-lhe o nome de Arca de Noé. O que se passa nesta cratera é um fenómeno único da natureza.
Depois de descer as escarpas da cratera e assentar no fundo, a vida selvagem revela-se em abundância, e é como se estivéssemos dentro de um grande aquário terrestre. Dá para entender? Não? Não faz mal, tens mesmo de ver para crer.
Águias pesqueiras, garças, e outras centenas de espécies de aves, flamingos, babuínos, rinocerontes-negros (quase em extinção, existem menos de 20 na cratera), búfalos em pleno habitat natural de pradarias verdes e lagos.


Diariamente, dezenas ou até centenas de jeeps todo-o-terreno circulam dentro da cratera para testemunhar tanta biodiversidade. É natural que milhares de pessoas, por tantos motivos diferentes, queiram presenciar de tão perto a vida selvagem no seu estado puro. No entanto, não podemos deixar de criticar a atitude competitiva, irresponsável e desrespeitadora de alguns turistas e os seus guias, que se aproximam demasiado dos animais, ultrapassam-se uns aos outros de forma abrupta, causam um enorme ruído de histeria, e tudo isso para que possam atingir os objetivos da sua visita. Este tipo de atitude, não só incomoda visivelmente os animais como coloca o foco do safari em objetivos pessoais e mundanos como, por exemplo, tirar uma selfie a 2 metros de um leão. É importante compreender onde estamos, a particularidade do que estamos a assistir, e o quão precioso e abrangente isso é. Devemos adotar uma atitude pouco invasiva e respeitadora do espaço animal, que não se resume ao seu corpo, e ser capazes de o contemplar garantindo que ele se continua a desenrolar de uma forma natural, sem perturbações. Se assim for, todos ganham e se valorizam, animais e visitantes.

Depois do almoço, infelizmente era hora de partir deste lugar especial. O Fanaka Camp esperava-nos para jantar.
DIA 4: TARANGIRE
O Tarangire foi para nós uma agradável surpresa. Atravessado pelo rio Tarangire, é uma paisagem composta de mais vegetação, montes e vales, bem diferente das paisagens mais planas a que vínhamos sendo habituados nos últimos dias. Recheado de zebras e gnus, este parque é também famoso por abrigar uma enorme quantidade de espécies de aves, elefantes e embondeiros (as árvores de formato muito especial que alguns dizem ser sagradas, outros dizem estar plantadas ao contrário, e que são, certamente, centenárias, já que podem viver até 1000 anos).


Ao fim da tarde, regressámos a Moshi completamente exaustos e saciados da dose de biodiversidade deste safari de 4 dias. Adorámos a experiência e a única coisa que teríamos alterado seria ficar mais tempo, caso não tivéssemos de guardar algum dinheiro para viajar o Mundo. Para a imensidão de cada parque, num safari de 4 dias, acaba por ser necessário fazer vários kms/dia a cobrir áreas muito extensas, o que se torna cansativo e apressado. É preferível fazer menos parques e poder desfrutar ainda mais deles. Outra vez: menos, é mais.

Se gostaram deste post e querem saber mais dicas específicas de safari/game viewing visitem o nosso post do Kruger https://penumundo.blog/2019/08/31/kruger-park/.